Adenoamigdalectomia não elimina problemas respiratórios do sono em crianças com respiração oral

Teresa Santos (colaborou Dra. Ilana Polistchuck)

NOTIFICAÇÃO 6 de junho de 2019

Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) identificaram que a pressão sistólica da artéria pulmonar diminui significativamente em crianças com respiração oral após realização de adenoamigdalectomia. No entanto, em muitos casos, a cirurgia parece ser insuficiente para alcançar a resolução completa dos problemas respiratórios do sono e a normalização do índice de apneia obstrutiva e hipopneia (IAH).

O trabalho foi publicado na edição de maio do periódico International Journal of Pediatric Otorhinolaryngology.[1] A Dra. Cláudia Pena Galvão, médica especialista em otorrinolaringologia e medicina do sono e autora da pesquisa falou ao Medscape sobre o tema.

A pesquisa prospectiva foi conduzida com crianças atendidas no Ambulatório do Respirador Oral do Hospital das Clínicas da UFMG entre 2013 e 2017. Ao todo, foram incluídos 21 pacientes respiradores orais com indicação cirúrgica, sendo 11 meninos e 10 meninas que tinham entre quatro e nove anos de idade.

Os pesquisadores avaliaram pressão sistólica da artéria pulmonar, fluxo nasal e IAH no momento da indicação cirúrgica e 18 meses depois. No início do estudo, 61,9% das crianças avaliadas tinham IAH compatível com síndrome da apneia obstrutiva do sono (SAOS).

Dos 21 participantes, 14 foram submetidos à cirurgia e sete não realizaram a intervenção, sendo utilizados como grupo de controle.

A adenoamigdalectomia não foi feita nesses sete pacientes devido a questões burocráticas. “O ambulatório recebe pacientes provenientes de diferentes cidades do estado. A indicação cirúrgica e a emissão da guia para a cirurgia são feitas no ambulatório e os pacientes devem autorizar o procedimento nas respectivas cidades. Há uma variabilidade em relação ao tempo de espera entre os municípios. A distribuição dos pacientes entre o grupo operado e não operado foi aleatória de acordo com esta questão burocrática”, esclareceu a Dra. Cláudia.

Os resultados mostraram que o fluxo nasal médio aumentou em ambos os grupos, independentemente da cirurgia. Em contrapartida, apenas o grupo submetido à adenoamigdalectomia apresentou redução importante da pressão sistólica da artéria pulmonar. O IAH dos pacientes operados não reduziu significativamente ao longo do tempo, porém, houve tendência de redução. Já nos pacientes não operados esse índice aumentou e depois diminuiu.

A Dra. Cláudia explicou que a maioria dos participantes apresentou fluxo nasal inspiratório classificado como alterado (obstrução moderada, acentuada ou muito acentuada) na primeira avaliação.

“Ao longo do tempo, percebeu-se tendência de aumento do fluxo, comprovada pelos testes estatísticos, entre os pacientes operados e os pacientes não operados. O aumento do fluxo nasal pode estar associado à remoção do fator obstrutivo (grupo operado) e à relação com o crescimento facial que ocorre nessa faixa etária. A melhora do fluxo também pode estar associada ao tratamento clínico instituído (uso tópico de corticoide nasal nos casos indicados). Na avaliação inicial foram excluídos os pacientes que haviam sido submetidos ao uso de corticosteroides nasais nos últimos 30 dias. Ao longo do tempo, o tratamento clínico nos casos indicados não foi submetido a controle no presente estudo”, disse.

Quanto ao IAH, a médica afirmou que os dois grupos tiveram comportamentos diferentes ao longo do tempo, mas ambos tenderam à redução (operado P = 0,074 e não operado P = 0,025). Ela destacou que é necessário cautela ao comparar os grupos entre si, pois eles não foram pareados.

“O presente trabalho destaca-se pelo tempo de acompanhamento das crianças superior à média dos trabalhos na literatura”, disse a médica. O tempo prolongado de acompanhamento e a avaliação das crianças tendo a idade delas como base permitiram que a evolução do IAH fosse evidenciada, bem como a evolução da conduta expectante entre as crianças que não foram operadas.

A pesquisa mostrou que nos pacientes submetidos à cirurgia os sintomas melhoraram independentemente da normalização do IAH, o que, segundo a especialista, está de acordo com o que vem sendo observado na literatura. [2,3] “Possivelmente os pacientes submetidos à cirurgia melhoram pela remoção do fator obstrutivo mesmo sem normalizarem o IAH. Entretanto, o desfecho em longo prazo em relação à recidiva de sintomas e ao IAH está mais relacionado ao padrão genético de crescimento craniofacial e fatores neuromusculares do que à obstrução das vias aéreas superiores”, disse.

Para a médica, os resultados da equipe do Ambulatório do Respirador Oral da UFMG sugerem, ao contrário do que se pensava, que a adenoamigdalectomia isolada em muitos casos é insuficiente para alcançar a completa resolução dos problemas respiratórios do sono e a normalização do IAH. “Este, apesar de ser um dos principais critérios polissonográficos, não parece refletir todo o espectro da doença, incluindo as consequências neurocognitivas e cardiovasculares”, destacou.

Fonte: https://portugues.medscape.com/verartigo/6503637

Dra. Cláudia Galvão

Dra. Cláudia Galvão

Medicina do Sono | Otorrinolaringologia

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